A Desumanização de Valter Hugo Mãe na sua 1ª edição pela Porto Editora.
Valter Hugo Mãe nasceu em Angola em 1971 mas a sua infância foi em solo português, a norte, entre Paços de Ferreira e Vila do Conde. Licenciado em direito, pós-graduou-se em Literatura Portuguesa Contemporânea na faculdade de Letras do Porto.
Do ponto de vista editorial, com 28 anos co-fundou a Quasi Edições onde publicou obras de figuras como Mário Soares, Caetano Veloso, Adriana Calcanhoto, entre muitos outros. Mais tarde, em 2006, fundou a editora Objecto Cardíaco.
Um ano depois conquistou o Prémio Literário José Saramago com o romance “o remorso de baltazar serapião” que lhe trouxe o reconhecimento público.
Homem de vários ofícios, Valter Hugo Mãe é um nome sonante na escrita, na edição, nas artes plásticas, na música e na televisão. Na poesia, no romance, nos contos assim como na literatura infantil, eis onde podemos saborear a escrita deste já reconhecido como um dos mais talentosos autores da literatura portuguesa contemporânea.
É pela voz de uma criança de 11 anos, Halla, que perdeu a irmã gêmea, que percorremos esta fascinante viagem pelos fiordes islandeses. A dor da perda, a melancolia, a solidão constituem a aguarela que caracterizam o caminho da busca da felicidade desta menina. Eu sabia bem que aceitar a morte da minha irmã era um egoísmo e contradizia muito a família.
A Desumanização é um livro positivamente perturbador na escrita e na viagem.
Quanto à escrita, neste artista as palavras são como as ideias trespassam todas as grades. (…)
Quanto à viagem, essa transporta-nos para um mundo imaginário situado na Islândia, tão longe quanto ao mais profundo de nós, incluindo o amor aos livros. Porque alguns livros pareciam perfumar a linguagem, outros sujavam-na e outros ignoravam-na. Os livros podiam ser atentos ou desatentos ao modo como contavam. Nós, inspecionando muito rigorosamente, achávamos melhores aqueles que falavam como se inventassem modos de falar. Para percebermos melhor o que, afinal, era reconhecido mas nunca fora dito antes.
A graciosa e crua melancolia de Halla embala-nos ao longo de mais de duzentas páginas de uma escrita exuberante. Valter Hugo Mãe eleva a tristeza ao que realmente é: um bem essencial. Afinal, estar triste também é um estado de alma indispensável à felicidade, daí a sua beleza. A tristeza colocara os meus pais e as coisas todas a envelhecer. Dizia-me que era possível. O tempo também se conta pelos desgostos. A par e passo com a tristeza, vem a solidão. Amontoei-me às coisas. Entristecia-me quando ficávamos sós.
Andávamos à sorte sem melhorar em nada é a antítese do que senti com esta leitura. E assim o é o próprio título. A Desumanização é sobretudo uma viagem a nós próprios, a emoções tão obscuras quanto necessárias que nos tornam únicos.
Conforme a crítica de imprensa da TSF, esta obra “Pede ao leitor algo mais do que a simples vontade de seguir uma história.”
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