Entre investigação e imaginação, o autor convidado de hoje percorre os meandros da História e traz-nos factos e segredos num livro e numa trilogia, respectivamente. Não dispõe de rotina de escrita, porém está atento a momentos de revelação em que uma ideia ou outra lhe fazem mais sentido. Descubram o autor de hoje: Ricardo Correia!
O que lhe deu vontade de escrever livros?
Por volta do ano em que terminei o curso superior, o meu trabalho final tinha uma grande componente de investigação.
Apesar de já ter tido experiências na escrita com alguns contos e pequenas histórias escritas no âmbito escolar, incentivado por professoras de Língua Portuguesa, penso que foi nessa altura o primeiro momento em que pensei realmente isto era capaz de dar uma boa história para um livro.
Estávamos então no início dos anos 2000. Foi preciso passar mais de uma década para que começasse realmente a escrever o meu primeiro livro “a sério”. Faltava-me apenas encontrar um tema em que me sentisse realmente à vontade e a investigação acabou por o trazer.
Onde encontra inspiração?
Admito que muitas vezes é uma questão de “clique”.
Quando escrevi aquele que viria a ser o meu primeiro livro, a história surgiu-me enquanto estava sentado numa esplanada, num fim de tarde de Primavera, quando os dias começam a aquecer. A meio da escrita de história do livro, recordo-me que não estava totalmente satisfeito com o rumo que a narrativa estava a ter. Acabei por parar e descartar mais de metade do que tinha já feito.
Dias depois, num passeio pelo Alentejo e durante uma visita a um monumento senti o tal “clique”, que já referi, e percebi exatamente que aquela era a história que eu queria contar e como a queria contar. Demorei ainda mais uns dois anos até deixar que a narrativa me conquistasse completamente. Até agora, a inspiração tem sido sempre assim.
O que retratam o(s) seu(s) livro(s)?
Dos dois livros que tenho publicados até ao momento (sendo que o segundo livro é uma trilogia), em ambos segui a linha da narrativa histórica. O primeiro deles, “O Segredo dos Bragança” (2017) é um Romance Histórico. Costumo dizer que é um livro em que dez por cento é trabalho de ficção, com noventa por cento de investigação. Nele, acompanhamos a família de um alto funcionário da corte portuguesa, marinheiro e espião que segue o rasto de um tesouro há muito esquecido e que nos transporta até ao início da dinastia de Bragança em 1640. A narrativa desenrola-se na transição dos séculos XIX e XX. Podemos encontrar História Contemporânea, intriga, suspense… de tudo um pouco.
No que diz respeito ao segundo livro, a trilogia “O Regresso do Desejado”, conta com três títulos – “Ascensão” (2018), “Inquisição” (2019) e “Redenção” (2020). Ao contrário do primeiro, este livro representa dez por cento de investigação e noventa por cento de imaginação e ficção e é uma obra de Ficção Histórica. Este livro assenta numa das perguntas mais curiosas e num momento dos mais dramáticos da História de Portugal: e se D. Sebastião tivesse regressado da batalha de Alcácer-Quibir? Sendo uma obra de ficção, houve um espaço muito maior para a imaginação, que me permitiu imaginar todo um momento em que a União Ibérica se dá ao contrário daquilo que realmente aconteceu e a coroa da uma Península Ibérica unida debaixo de uma mesma bandeira, se vai colocar sobre a cabeça de D. Sebastião, tendo como principal opositor o rei das Espanhas, D. Felipe II, da casa de Áustria. Quem quer que o leia pode contar com as habituais intrigas de corte, mas também com uma componente de guerras religiosas, políticas e sociais, num mundo que saía da Idade Média e acordava no Renascimento.
Hábitos de escrita: Onde escreve? Em que momento do dia? Quanto tempo dedica à escrita?
Ao contrário de muitos autores, não tenho grandes hábitos de escrita. Escrevo porque gosto de partilhar histórias e não o faço tendo em vista este ou aquele objectivo. Já tenho escrito capítulos inteiros num telemóvel, apenas nas deslocações do dia-a-dia, já escrevi a bordo de um comboio e de um avião. Basta-me ter onde escrever, seja em papel ou num telemóvel e desde que a escrita flua, qualquer lugar e hora do dia é bom para escrever. Nunca “dediquei” este ou aquele tempo à escrita. Já me aconteceu estar uma noite inteira a escrever e adormecer sobre o tablet já com a madrugada avançada e já me aconteceu passar dias e semanas sem me apetecer escrever nada.
Improvisa à medida que escreve ou conhece o fim antes de escrever?
Depende dos casos e dos livros. Quando comecei “O Segredo dos Bragança”, estava longe de imaginar o final. Escrevi uns três ou quatro finais diferentes até ter encontrado exactamente aquele que queria. Deixei por isso que a imaginação e o improviso fossem tomando parte da escrita. Com “O Regresso do Desejado”, houve um misto. Sabia exactamente quando e como queria que a trilogia terminasse. Mas sendo três livros, havia que perceber onde “suspender” cada um deles, para despertar o interesse dos leitores e levá-los a ler mais e a querer conhecer mais da história. Daí que, conhecendo o final da história, era questão de deixar que o final de cada um dos livros ganhasse um lugar por si próprio. Para quem lê o primeiro volume, fica com a sensação de uma história acabada, mas da qual pode ainda querer saber mais, pois ficam vários assuntos em aberto. Já quanto ao segundo volume… fica totalmente em aberto, deixando a conclusão para o terceiro. Aconselho vivamente a leitura.
Qual é o seu livro preferido?
Não tenho um livro preferido. Tenho livros preferidos, consoante as épocas e os estados de espírito. Cresci com os livros de “Uma Aventura” e “Viagens no Tempo”. Chorei com “O Principezinho”. Ainda hoje releio com prazer “Os Três Mosqueteiros”. Entre muitos e muitos outros livros.
Uma breve mensagem de incentivo para quem gosta de escrever.
Nunca deixar de escrever. Desde que se faça algo por prazer, então não podemos desistir. Para mim, a escrita e a partilha das histórias é um prazer. Não podemos exigir nunca de nós próprios mais do que poderíamos exigir aos outros.
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