A oitava semana em casa

Nesta oitava semana lembrei-me da Ava.

Quando fez 18 anos o pai deu-lhe a escolher entre tirar a carta ou tirar um curso de computadores. O que para uns seria uma escolha imediata, a ela levou-lhe dias a tomar uma decisão. Para surpresa de todos, escolheu o curso de computadores. Porquê?

O primeiro exercício que fez foi imaginar-se sozinha dentro de um carro pelas estradas fora e de repente ter um problema… Reconheceu que não estava, de todo, preparada. Para além disso, ainda que tirasse a carta, não teria dinheiro nem para comprar um carro, nem para o manter. É de notar também que, nunca, o facto de não ter carro a tinha impedido de ir onde quer que fosse.

Resolveu, então, optar pelo curso de computadores. Na sua perspectiva, o curso iria dar-lhe ferramentas para arranjar um trabalho e aí conseguir dinheiro para, a seu tempo, tirar a carta, comprar e manter um carro.

E foi isso que fez. Começou o curso de informática aos 18 anos, acabou aos 19. Nesse verão não precisou do curso, mas nos seguintes sim. Trabalhou como secretária durante as férias de outras pessoas e conseguiu, finalmente, o dinheiro para, numa primeira fase, tirar a carta. E assim foi no verão dos seus 22 anos. No ano seguinte, para sua surpresa, o pai ofereceu-lhe um velho carro que lhe serviu perfeitamente. A mãe patrocinava-lhe o combustível e o seguro do mesmo enquanto ainda estudava. Um pouco antes de fazer 24 anos começou a trabalhar a tempo inteiro e pôde, a partir dali, sustentar essas despesas.

Porque vos conto tudo isto? Para frisar o quanto Ava foi estratégica nas suas decisões. Em prol de avançar seguramente, Ava preferiu adiar o que muito queria. Embora naquele momento parecesse que estava parada quanto aos seus objectivos, pelo contrário, Ava estava a avançar a passos seguros.

E por este último pormenor, esta semana lembrei-me deste episódio da vida de Ava. Estamos fora das restrições do confinamento há uma semana, porém escolhi permanecer por casa e sair para o estritamente necessário. Decidi aguardar o momento oportuno e possível para mim. Prefiro adiar por agora as saídas sociais e profissionais que anseio, para quando sair, fazê-lo com menor risco de contágio ou, por outras palavras, com maior certeza de que o perigo é menor.

Ah! E já agora… a Ava é a personagem do meu próximo livro.

E vocês, têm saído à rua?

Obrigada ao William Krause no Unsplash pela foto da capa do artigo.

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