À janela! A sétima semana em casa viveu-se à janela…
Talvez seja o resultado da disputa entre a saturação e a sensatez de estar confinada.
Já pensaram nas expedições e descobertas que uma única janela oferece? É preciso gostar de observar, é certo. Mas, porque não?
Lembram-se do Senhor da mala?
Voltei a vê-lo, mais vezes esta semana do que nas outras todas antes e durante as restrições da pandemia. O Senhor da mala continua as suas peregrinagens diárias. Vi-o primeiramente sem máscara. Já o vi de máscara. E à falta de insónias, vejo-o sempre no regresso habitual a meio da manhã. Continuo a vê-lo voltar cedo, como se fosse todos os dias certificar-se que lá onde vai, não há mesmo nada que o faça ficar. Volta sempre, cedo.
Descobri outro personagem desta trama nas minhas visitas matinais à janela.
Um senhor que solta os dois cães de grande porte como se festejasse a liberdade dele através deste gesto. Digo isto porque a seguir ao soltar das trelas dos seus melhores amigos, lança o braço ao ar com tanta força quanto o da sua necessidade de evasão. Os cães correm, mas ele segue-os a caminhar. Haja quem aproveite o terreno vazio e desperdiçado em frente a nós! Contei-vos o que era este espaço anteriormente. Agora não passa de pasto para as vacas e ovelhas de um dos donos e de depósito de estrume para outros visitantes. Após o pequeno passeio, os três companheiros retomam calmamente a rua por onde chegaram.
Também fui à janela durante a noite ao som de vozes de pessoas cuja embriaguez do vinho do aborrecimento lhes faz perder o norte.
À passagem pelos prédios erguem a voz às quatro horas da manhã como se fossem quatro horas da tarde. Que vontade de falar alto, eu também!
Vi pessoas a limpar as casas e a desfazerem-se de móveis.
Uma necessidade de renovação do espaço onde estão a reconhecer que terão de permanecer. Vi outras a correrem para aproveitar os mesmos objectos deitados fora como quem procura um novo destino a descobrir.
Entre pessoas que passeiam cães, outras que se passeiam a elas próprias e outras ainda que passeiam pelas distrações, também há as que vagueiam discretamente pela janela e acabam por passear muito mais.
E vocês, o que veem da vossa janela?
Todos sentindo o tempo passar… e na busca de ter o que fazer. A imaginação fértil brota em cada um de nós. Bom dia