Eduardo Pires Coelho – Viajar pela História e pela Geografia

Escrever - Palavra do Autor Eduardo Pires Coelho

O gosto pela leitura, pela História e pelas viagens são as matérias-primas para a escrita do autor Eduardo Pires Coelho. Depois, encontra a inspiração em tudo o que vê, lê e sente. Publicou o primeiro livro em 2011 e o segundo em 2020. Espera ser “bastante mais rápido no terceiro livro”. Nós, leitores, queremos conhecê-lo, a ele autor, agora!

O que lhe deu vontade de escrever livros?  

Sempre gostei muito de ler e tenho uma paixão pela escrita desde pequeno. Talvez a primeira lembrança que tenho disso foi quando escrevi uma composição aos onze anos, sobre uma erupção vulcânica na Colômbia.

A minha paixão pela História e Geografia levou-me a imaginar muitas histórias e ter várias ideias que poderiam servir de base para um romance.

Demorei alguns anos até ganhar maturidade na escrita, e outros tantos a idealizar e concluir o meu primeiro romance. O Segredo da Flor do Mar acabou por ser publicado em 2011, e demorei quase dez anos para terminar e publicar o meu segundo livro – Taprobana. Espero ser bastante mais rápido no terceiro livro.

 

Onde encontra a inspiração?

Em tudo o que vejo, leio e sinto; penso que é mais ou menos assim com todos os escritores.

O meu gosto pela História foi determinante para me dedicar a romances e thrillers históricos. A História de Portugal é rica e guarda muitos segredos e mistérios, desde os confins do Brasil até às ilhas mais recônditas da Indonésia. A nossa presença no Oriente durante a Dinastia Filipina (1580-1640) é das épocas que mais me fascina. Foi uma altura em que estávamos nas Índias há várias gerações, já sem grandes recursos e num declínio considerável. A descoberta de episódios passados naquela altura são sempre uma fonte de inspiração, até porque tiveram lugar um pouco por todo o lado e muitos deles são poucos conhecidos. As marcas dessa nossa presença continuam bastante visíveis, não apenas na Índia, Macau e Timor, mas também em países tão diversos com o Sri Lanka, o Vietnam ou o Japão.

Viajar também é uma importante fonte de inspiração e, felizmente tenho tido a sorte de conhecer muitos países, por razões profissionais e pessoais.

Visitei países tão diferentes como o Uganda, Singapura ou a Finlândia, o que me permitiu contactar com outras culturas e realidades. Gostava de conhecer todos os locais onde os nossos antepassados estiveram e, no fundo, contar e ficcionar as pequenas histórias que por lá se passaram.

 

O que retrata o seu livro?

Taprobana é um livro centrado no Sri Lanka, o antigo Ceilão, e a história desenrola-se em dois tempos diferentes. No presente, começa com o homicídio de um médico-cientista do Sri Lanka que trabalha em Portugal, numa altura em que vários dos seus pacientes terminais melhoram repentinamente. No passado, a história decorre no final do século XVI e princípio do século XVII; retrata a vida de uma mulher, descendente de portugueses no Ceilão, numa época em que os vários reinos da ilha lutavam entre si e os portugueses tentavam conquistar o território por inteiro. As duas histórias estão interligadas e o leitor vai descobrindo a relação entre elas à medida que avança no romance.

Para além do suspense e das surpresas, espero que o livro possibilite uma viagem no tempo, ao Ceilão dos Séculos XVI e XVII.

Estivemos lá mais de cento e cinquenta anos, embora continue a ser um tema pouco conhecido entre nós. Foi uma altura de deslumbramento, sonhos e violência.

O Ceilão foi um caso muito diferente do resto do Império do Oriente, uma vez que, a partir de uma certa altura, ambicionámos uma conquista terrestre, e não apenas o controlo dos portos ou da costa. Essa estratégia, a ter sucesso, transformaria a ilha no maior território das Índias. Contudo, a selva, os animais selvagens e as montanhas do interior revelaram ser uma realidade bem diferente da que estávamos habituados, e acabámos por ser expulsos da ilha pelos holandeses em 1658, depois de décadas de luta.

Que eventos da sua vida o marcaram e, por consequência, se refletem no que escreve?

A doença e morte do meu pai marcou-me muito,

e de alguma maneira, isso reflete-se nos meus livros, especialmente nas partes do presente.

Ao meu pai, também devo a minha paixão pela História, e essa é a trave-mestra dos meus romances.

O meu trabalho nos mercados financeiros acaba também por deixar um cunho forte,

não apenas pela sua natureza global e electrizante, mas também pelo lado empresarial, que está bem vincado em Taprobana.

Tal como disse anteriormente, as viagens são sempre um marco, uma fonte de inspiração e as recordações ficam para a vida.

Gosto de escrever sobre os locais por onde passo. Por isso, Taprobana vai para além do Sri Lanka, e decorre também em Malta, África do Sul, Costa Rica e Turquia. O mesmo já tinha acontecido com O Segredo da Flor do Mar, cujo enredo está centrado em Malaca, mas também se passa no Peru, Brasil e Estados Unidos.

Finalmente, a minha estadia na África do Sul também deixou a sua marca.

Durante sete anos, vivi perto do Cabo da Boa Esperança, e realmente, deve ter sido muito difícil navegar por aquelas águas em navios tão pequenos e frágeis. Aquela costa é um cemitério de navios e o “Adamastor” parece real durante uma grande parte do ano.

 

Hábitos de escrita: Onde escreve? Em que momento do dia? Quanto tempo dedica à escrita?

Tenho a facilidade de conseguir escrever em qualquer lado.

Durante anos escrevi em aeroportos, aviões e hotéis, porque estava sempre a viajar. Desde que regressei a Portugal, especialmente com a pandemia, escrevo sobretudo em casa e em esplanadas à beira-rio. Tento escrever todos os dias, sempre que posso, nem que seja uma hora por dia, de maneira a manter a história viva na minha cabeça.

 

Improvisa à medida que escreve ou conhece o fim antes de escrever? 

Tento ser bastante organizado e metódico.

Monto sempre um esquema com os capítulos e um fio condutor, com principio, meio e fim, por forma a manter o ritmo, a coerência e o suspense. O facto da narrativa se desenrolar em dois tempos diferentes obriga a uma disciplina acrescida para garantir que existe uma interligação perfeita entre as duas histórias e que o leitor nunca se perca no enredo.

Dito isso, é impossível não improvisar, e não nos deixarmos levar no momento pelo desenrolar da história e pela reacção das personagens.

Acabo sempre por improvisar várias partes, até porque as personagens, realmente, ganham vida e vão-se apropriando da história e ganhando o seu espaço. Em Taprobana, o final acabou por ter contornos diferentes do que eu tinha inicialmente idealizado.

Qual é o seu livro preferido? 

Gostei de tantos, e ainda guardo memórias de muitos que li durante a minha adolescência. Talvez destaque Por Quem os Sinos Dobram de Ernest Hemingway, mas também gosto muito de Ken Follett, Somerset Maugham e Mário Vargas Llosa – A Festa do Chibo, por exemplo, é um livro assombroso. Os Maias é o meu livro português favorito, sendo que, dos autores contemporâneos, o Equador, de Miguel Sousa Tavares, foi o que mais gostei de ler. Neste momento, estou a ler um pequeno romance de Mia Couto – Venenos de Deus, Remédios do Diabo.

E, por fim, uma breve mensagem de incentivo para quem gosta de escrever e pretende publicar. 

Na minha opinião, nada substitui um bom livro, mesmo nestes tempos das redes sociais, Apps e Netflix.

Recomendo que escrevam uma história que gostassem de ler, e que prenda o leitor da primeira à última página.

Sejam exigentes. Escrever um bom livro não é fácil, publicá-lo também não, mas como disse Fernando Pessoa

Tudo vale a pena, quando a alma não é pequena.

Muito obrigada, Eduardo, e parabéns pelo facto do seu mais recente livro, Taprobana, acabar de ser nomeado ao Prémio do Livro do Ano 2020 – Bertrand – Ficção Lusófona!

Autor Eduardo Pires Coelho

Para continuarmos a acompanhar o trabalho de Eduardo Pires Coelho:

IG: @eduardopirescoelho

Facebook: Eduardo Pires Coelho

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O mais recente livro de Eduardo Pires Coelho 

TAPOBRANA

 

O primeiro livro de Eduardo Pires Coelho 

O Segredo da Flor do Mar

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