Escrever dá prazer por S. Catarina Gomes

No intuito de representar um estilo de literatura raro em Portugal, a nossa convidada de hoje entregou-se ao deleitoso prazer de escrever.

No intuito de representar um estilo presente em Portugal pela literatura estrangeira, a nossa convidada de hoje meteu mãos ao teclado e entregou-se ao deleitoso prazer de escrever que lhe adveio do vício de ler. Sem saber ao certo se o que escrevia seria um conjunto de cenas, de contos ou até no que realmente deu, o seu primeiro livro, S. Catarina Gomes resolveu arriscar. Vou deixar que vos conte.

O que lhe deu vontade de escrever livros?

Foram 3 as razões:

Primeira, o meu vício de ler.

O meu primeiro livro, que comecei a escrever em 2017, surgiu durante umas férias em que tinha terminado um ciclo de leituras de romances e não encontrava mais nenhum livro que me satisfizesse, nem de autores cujo trabalho já seguia, nem de novos autores, porque andava a ler imenso.

Segunda, a necessidade de representar um estilo literário que em Portugal é dominado pela literatura traduzida (estou constantemente a repetir esta frase, vírgula por vírgula, mas é a realidade).
Então, quando procurei romances eróticos escritos em português, não encontrei e questionei-me porque é que o estilo só era representado em Portugal por literatura traduzida. E isso era algo que eu tinha de mudar!

Terceira, a vontade de me querer superar a mim mesma e escrever as minhas próprias histórias, com as minhas próprias personagens.
O facto de querer continuar a ler um determinado tipo de histórias e não encontrar nada em português, nada diferente, despertou em mim esta vontade. E, a partir do momento em que me desafio, só paro quando atinjo aquilo a que me proponho.

No fundo, eu sempre me considerei uma escritora, mas, simplesmente, não tinha chegado a altura certa.

Onde encontra inspiração?

No meu caso, a inspiração pode vir de qualquer lado. Uma simples viagem de metro ou um passeio, independentemente do local, da hora, se se trata de um sítio especial ou banal, são suficientes para pôr a imaginação a funcionar e visualizar personagens aleatórias a recriarem uma cena. Pode ainda vir de outros livros…

O que retratam os seus livros?

Os meus livros, por enquanto, são todos romances contemporâneos para jovens adultos (daí atribuir-lhes a etiqueta de new adult romances), com conteúdo erótico. De resto, creio que as minhas histórias retratam cenas do dia a dia, onde o romance está sempre presente, através de uma escrita simples e direta. Podem retratar cenas de amor, cenas de amizade, cenas de sexo, cenas banais, como atravessar a rua para ir trabalhar e experimentar uma sensação, na perspetiva da personagem… O objetivo dos meus livros é e será sempre o mesmo: transportar os leitores para as vidas das personagens, para as suas cidades, para as suas casas, para os seus empregos…. numa ótica de lhes fornecer cenários e atores que os conduzam através das suas próprias fantasias, além, claro está, de proporcionar bons momentos de lazer. Quero, com isto, dizer que não esperem cenas estupidamente dramáticas a ponto de se tornarem irrealistas, nem esperam tirar elevadas lições de vida de histórias assinadas por S. Catarina Gomes.

Hábitos de escrita: Onde escreve? Em que momento do dia? Quanto tempo dedica à escrita?

Não diria que tenho propriamente hábitos de escrita, porque como se trata de um hobbie, se começar a associar a escrita à palavra hábito e, consequentemente, rotina, vou começar a associar a trabalho e isso é algo que não quero, de todo. Então, desde que tenha um computador, escrevo em qualquer lado e a qualquer hora do dia.
O meu primeiro livro foi todo escrito em casa, durante umas férias, na sala de jantar, durante o dia e durante a noite. Já a revisão e polimento do mesmo foi todo feito na mesma sala, mas só à noite, porque já estava a trabalhar.
O segundo (que ainda não mostrei a ninguém), foi escrito também durante as férias, metade em vários Airbnb’s na Irlanda, e outra metade num hotel em Évora, com uma vista esplêndida para um claustro. Acho que acabei de encontrar um padrão: estar de férias! Se tiver tempo, posso dedicar cerca de 16 horas à escrita, literalmente. Mas, logo de seguida, posso passar um mês sem escrever uma única palavra e isso, não é nada que me assuste.

Improvisa à medida que escreve ou conhece o fim antes de escrever?

Confesso que escrevo muito à base de improvisação. Como costumo criar, primeiro, as personagens, vou desenvolvendo uma história à volta delas e não o contrário, então é difícil determinar o fim da história sem conhecer o desenvolvimento das personagens. Isto pode parecer um pouco lírico, mas elas acabam por ganhar vida própria e a certa altura, deixo de as controlar e passo a viver com elas, quase como espectadora.

Qual é o seu livro preferido?

Não conseguira escolher. Não tenho propriamente um livro que adore acima de todos os outros. Há várias partes de vários livros que adoro e releio, de vez em quando, para me inspirar, por exemplo, ou para perceber como aquele(a) autor(a) descreveu uma determinada situação… Mas, porque todas as perguntas merecem uma resposta, vou indicar um livro a que recorro imensas vezes, nem sei bem porquê, e que é “A Rapariga das Laranjas” de Jostein Gaarder.

Uma breve mensagem de incentivo para quem gosta de escrever. 

Não acredito que haja alguém que goste de escrever e que não goste de ler, mas para quem gosta de escrever, o que posso dizer é: primeiro, leiam muito e depois, escrevam!

Arrisquem escrever, se é algo que vos dá prazer.

A escrita, por vezes, traz associada uma certa dose de pressão – “será que vão gostar da minha história?”, “será a minha ideia suficientemente boa para dar um livro?”. Posso dizer que quando comecei a escrever o meu primeiro livro, não fazia a menor ideia se dali, iria sair um livro, um conto ou um conjunto de cenas românticas e eróticas soltas.
Portanto, o mais importante é arriscar. Temos de ser autocríticos, sim; nenhum leitor merece ler um livro com erros, por exemplo, e parte-me o coração quando deteto um, mas pode acontecer por várias razões que têm mais a ver com o processo de edição e não tanto com a capacidade do autor. No fim, tudo se resume a retirar prazer da escrita e arriscar ser-se feliz a fazê-lo.

 

Muito obrigada, Catarina!

Para acompanharmos o seu trabalho:

O meu site: https://scatarinagomes.wixsite.com/new-adult-romances

Instagram: @s.catarina.gomes

Facebook: @scatarinagomes

S. Catarina Gomes

Obrigada à Laura Chouette no Unsplash pela foto de capa deste artigo.

Espero que estejam a apreciar esta rubrica tanto quanto eu. Sintam-se à vontade para comentar.

1 Comment

Deixe um comentário

*