O prédio é baixinho. Tem 3 andares. Em cada andar, duas habitações. Contas feitas, é um prédio de seis apartamentos. Mas não estão todos habitados. Os r/ch esquerdo e direito são casas de férias. Estão grande parte do ano vazias.
Quanto aos outros andares, vejamos de cima para baixo: no segundo direito vive uma mãe cujos filhos já casaram e já seguiram para as suas próprias casas. Esta senhora deve sentir-se tão só que dá conversa e comida aos pombos! É um problema ir à janela quando ela decide alimentá-los…
No segundo esquerdo vive um simpático e educado casal de reformados que está longe de ter uma vida pacata. Entre os 3 filhos casados, noras e genro, netos e netas, o entra-e-sai mora aqui, nesta casa precisamente!
Descemos mais dois lances de escada e chegamos ao primeiro andar. No direito, vivem um pai idoso e o filho solteiro. São duas pessoas calmas e discretas. O idoso passa a maioria do seu tempo em casa e a passear o seu velho amigo de quatro patas no jardim em frente ao prédio, enquanto espera ansiosamente o regresso do seu filho do trabalho das 8h às 17h nos correios.
Por fim, no primeiro esquerdo vive um casal de quarentões com os seus dois filhos: um rapaz de 17 anos e uma menina de 5.
Apesar deste ser um prédio movimentado pelos seus próprios condóminos, bastava a família do primeiro andar esquerdo para lhe dar vida! Pois não há um dia em que não se ouçam! A menina de 5 canta assim que acorda, mais ou menos às 7 horas da manhã! O rapaz de 17 anos toca guitarra eléctrica sempre que lhe apetece. Ora equacionando o tempo livre de um adolescente e a intensidade de entrega a uma paixão, escusado será descrever a música de fundo constante. O que vale é que deve durar pouco! Como se não bastasse, apesar da jovem idade do guitarrista e de uma perfeita audição inerente, este músico só consegue ensaiar em altos decibéis! Quanto ao casal, pois bem, relembram-me com uma frequência cansativa o velho ditado: “casa ralhada não é governada!”
E as vidas destas quatro casas prosseguem semana atrás de semana traçando por consequência a vida do próprio prédio. Mas há uma altura particular em que estas rotinas são interrompidas! É a altura dos jogos de futebol!
O sai-e-entra congela!
O pai espera o filho em frente ao televisor desprezando os horários habituais de ida à rua do cão.
Todas as músicas, sejam elas cantadas, tocadas ou ralhadas silenciam-se. É na paz de passes de bola, faltas, enfim, de todo o tipo de comentário futebolístico que a harmonia e o sossego invadem o pequeno edifício.
Ora, não sendo uma particular apreciadora deste desporto, passei a considerá-lo sagrado e estou quase a desejar campeonatos diariamente!