( In ) dependência

Nestes tempos modernos, o individualismo reina. A cada elemento da família é atribuído um carro, um telemóvel, uma televisão… e por isso as casas querem-se cada vez maiores… A definição de nós próprios, a aceitação do nosso eu é exaustivamente incentivada pela imposição da nossa individualidade tantas vezes medida pela distância que estabelecemos com os outros: “o meu eu é maior do que o teu e predominará.” “ Quem sabe da minha vida sou eu.” “Ninguém tem o direito de intervir na minha vida.” Estes pensamentos ocupam cada vez mais a mente de um número também cada vez maior de pessoas.

Mas a meu ver, até neste ponto a nossa incongruência é gritante. Como podemos nós medir a nossa individualidade ou desenvolver o nosso eu se nos isolarmos? O isolamento leva a que sejamos apenas um (anulando assim a individualidade).

Apesar de todo este esforço, por muito independentes que julgamos precisar de ser e achar que o sabemos ser, tenho notado que num campo da nossa vida a corrida é no sentido contrário, ainda que a tentemos disfarçar.

Emocionalmente, quanto mais companhia de qualidade tivermos, mais felizes somos. Não fomos criados para estarmos sós. E sabemos disso porque esse é o objectivo da nossa incessante procura! O problema é que nem sempre sabemos escolher. Há males que vêm por bem e este é um deles. Não escolhemos a família onde vamos nascer, mas o facto de existirem pessoas que nos conhecem minimamente, pessoas que possam contar ou recordar-nos um pouco ( ou muito) da nossa história, representa um privilégio. Ainda que carregados de defeitos, nós e os nossos familiares, existem alguns elementos com os quais nos identificamos e naturalmente aceitamos de coração aberto. E neste preciso momento, a nossa individualidade ganha vida e sentido porque não estamos sózinhos.

É bom ter casas grandes para termos mais espaço ou até para receber mais gente, mas se as casas forem pequenas, nessa hora, não importa porque o que queremos mesmo é estar mais perto! E estou certa de que quem se afasta, muitas das vezes, é porque quer ficar muito mais próximo.

Photo by Ray Rui on Unsplash

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