MARGARIDA ESPANTADA de Rodrigo Guedes de Carvalho

Livro Margarida Espantada de Rodrigo Guedes de Carvalho

Violência doméstica e aparências num cocktail psicológico, tão profundo quanto real, vão tirar o fôlego ao leitor.

O LIVRO

Contracapa do livro Margarida EspantadaConforme anuncia a contracapa, este livro é sobre a família. Sobre irmãos . É sobre violência doméstica e doença mental. É um efeito dominó sobre a dor. 

Vivências familiares dolorosas a impingirem pensamentos que acorrentam a elos emocionais devastadores, em vez de permitir saborear a individualidade.

As tuas crianças não são tuas, é o que disse mais ou menos Khalil Gibran, são filhos e filhas da Vida, que só anseia por si mesma e pelo seu prolongamento, podes dar-lhes amor mas não os teus pensamentos, que elas nascem com os delas. 

Por outro lado, durante toda a nossa vida nos vendem a importância da família, a tese da inviabilidade da sua cumplicidade solidária. Que o sangue é o sangue. 

Mas se pensarmos que uma família é um aglomerado de pessoas que não se escolheram, paira sobre ela o risco constante de uma tragédia. 

Este livro vai em crescendo. Inicia com capítulos curtos que vão adensando, não tanto no número de páginas, o que também acontece, mas sobretudo nas informações sobre as personagens e o seu contexto familiar. O enredo avança de uma maneira progressiva tal, que quando damos por nós, estamos envolvidos numa análise psicológica profunda e declarada. Sobre umas das personagens:

Percebeu muito cedo que, na sua maioria, as pessoas são um mistério até para si próprias. Debatem-se com fantasmas, têm medos e guardam rancores, deixam-se cair aquilo a que depois chamam um gesto irreflectido, por vezes tão inesperado e violento que uma ou mais vidas podem mudar de forma drástica. 

Este livro também fala das artes como se se tratasse de uma paixão, um refúgio, um esconderijo à ansiedade, ao julgamento, à dor da realidade

Na adolescência deixou de escrever, passou a desenhar mais e logo descobriu a fotografia, que se tornou paixão e refúgio. 

 

A MINHA OPINIÃO

Apesar das primeiras páginas entrarem a matar numa violência física feroz, entendi a estrutura em crescendo como um cuidado para com o leitor. Eu diria que, para ler este livro, temos de estar preparados para um olhar profundo pelas pessoas.

O problema é que pouca gente está preparada para o crescimento dos indivíduos com realidade a mais.

No meio de tantas, há uma passagem, em particular, que me congelou a leitura por momentos. Por outras palavras, perturbou-me. Passamos a vida a preencher a realidade de trabalho e diversão para não ter de a olhar. Pode até nem ser a nossa, mas ainda assim não é menos dura, rude, dolorosa.

E a verdade é que não queremos, não queremos, não queremos travar e muito menos parar, aprendemos que temos uma só vida e a partir dessa certeza faremos o que for preciso para aguentar e prosseguir. 

Alguns compreensivos, atentos o suficiente, tantos de nós até solidários. Mas queremos é prosseguir. 

Este não é um livro para todos os leitores, não desfazendo de ninguém.

Mais do que a idade, é preciso uma certa bagagem emocional para digerir o que aqui se lê.

Mais do que aceitar os atos raramente válidos das personagens, vamos compreender as respectivas motivações, não para os desculpar, sim para entendermos uma ínfima parte da complexidade humana.

Uma vez mais, acredito que precisamos de ter sentido, sofrido e aceite as nossas limitações para entender muito as dos outros. Entender no sentido de compreender, não no sentido de aceitar. Uma espécie de resposta a alguns porquês.

Assim, esta leitura alarga-nos horizontes quanto a doenças do foro psicológico que desconhecemos e à volta das quais construímos barreiras que as delimitam quando, na verdade, têm um leque de possibilidades e de aparência infinito.

(…) seguiu psicologia por uma razão simples. Só lhe interessava conhecer os outros o melhor que conseguisse. Escutá-los e traduzi-los, explicar-lhes o que podiam tentar fazer para sofrerem menos.

Por fim, longe de mim imaginar o que me esperava neste livro: humanidade. Feliz por ter embarcado. Recomendo vivamente para quem goste de psicologia.

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