O meio rural onde cresceu viu-lhe nascer o hábito de contar histórias. Inspira-se no que a rodeia e, numa primeira etapa, escreve por impulso, ao sabor da inspiração. Depois… bem, vou deixar-vos descobrir a nossa convidada de hoje, Maria Isaac, assim como o incentivo que deixa aos amantes da escrita.
O que te deu vontade de escrever livros?
Tenho o hábito de contar histórias a mim própria, desde sempre.
As minhas memórias de infância estão cheias de noites em que me adormecia a mim própria a inventar histórias.
Não tenho irmãos e a leitura entrou bastante tarde na minha vida. Cresci num meio muito pequeno em que pouco havia para fazer e nada mais interessante do que imaginar e jogos de faz-de-conta. E como não poderia deixar de ser, ao longo dos anos algumas das histórias que inventava destacaram-se como favoritas. Na adolescência comecei a aperceber-me de que por mais que gostasse delas, as ia esquecendo. Foi aí que comecei a escrevê-las. Tarde demais para salvar muitas delas, mas continuo a esforçar-me para o compensar com histórias novas.
Onde encontras a inspiração?
No que me rodeia, em especial, nas pessoas.
Não importa se são pessoas próximas ou desconhecidas, qual o laço emocional que eu tenha com elas, as pessoas despertam a minha curiosidade e imaginação de forma hipnótica. É mais forte do que eu.
O que retratam os teus livros?
As histórias pelas quais vivemos.
Sejam estas histórias aquelas que contamos a nós próprios sobre quem somos e o que vivemos, as que justificam as escolhas que fazemos, seja elas sobre o mundo que nos rodeia e como interagimos com ele. Ou seja, como vemos o mundo e como construímos a nossa versão dele.
Que eventos da tua vida te marcaram e, por consequência, se refletem no que escreves?
Sem dúvida que ter crescido num meio rural é o meu alicerce.
Tenho uma forma introspectiva de viver e isso reflete-se na minha escrita. O cenário rural é predominante até este momento. Mas não será assim para sempre. Aquilo que acredito que se irá manter é a observação e empatia pelo Outro.
Hábitos de escrita: Onde escreves? Em que momento do dia? Quanto tempo dedicas à escrita?
Não tenho muitos hábitos no que respeita à escrita.
Ela acontece em vagas, sem disciplina.
Sou levada por apetites. Talvez haja apenas um, o gosto de escrever à mão. Tenho sempre um daqueles cadernos de capa preta formato A5 no qual vou dando forma à história e depois aos capítulos, só mais tarde passo para o computador, quando passo a ter uma abordagem mais crítica e menos criativa ao que escrevi.
Improvisas à medida que escreves ou conheces o fim antes de escrever?
Escrevo em duas fases.
Primeiro levada pelo impulso, ao sabor da inspiração e sem grandes preocupações sobre coerência ou forma.
A segunda com maior intenção de tornar a história mais clara e disciplinar a escrita.
Qual é o teu livro preferido?
Isso é como escolher um pôr-do-sol favorito, impossível de me decidir apenas por um.
Mas posso partilhar o mais recente na minha lista de favoritos. Terra Sonâmbula de Mia Couto.
E, por fim, uma breve mensagem de incentivo para quem gosta de escrever e pretende publicar.
A mensagem que posso deixar a quem gosta de escrever tem de começar por comemorar este gosto partilhado pela Palavra, que proporciona a quem o sente, um propósito, um sentido de vida.
A publicação é apenas um desejo que nasce dessa paixão, não o contrário,
e por isso nunca devemos permitir que a rejeição por parte das editoras ou impossibilidade da publicação ponha em causa continuar a escrever. O incentivo que deixo é lembrar a cada um de vocês que ninguém conseguirá escrever o que vocês têm para escrever. Ou ainda mais simples do que isso: Se não escreveres as tuas palavras, elas nunca existirão.
Muito obrigada, Maria!
E, para quem ainda não leu o novo livro da Maria Isaac, podem ouvi aqui o primeiro capitulo pela voz da própria autora:
Os livros da autora Maria Isaac
Mais uma entrevista fantástica! Adoro o teu projeto “Escrever — Palavra de Autor(a)”, aprendo imenso sobre os autores e os seus hábitos de escrita. Sinto que os conheço melhor depois de ler as suas entrevistas.
Muito obrigada por este conteúdo maravilhoso!
Um beijinho!
Obrigada, Elisabete!
É essa a ideia! Conhecermos um pouco mais do processo de escrita de cada autor e inspirarmos-nos!