Ainda há pessoas que não estão convencidas de que as viagens, para além do entretenimento que proporcionam, são uma ampla fonte de conhecimento. Partilho o que viajar me ensinou sobre escrever.
PREPARAÇÃO
Quando decidimos fazer uma viagem, pequena ou grande – pode ser uma visita de um dia, um fim de semana, uma semana, um mês – a nossa imaginação crê uma ideia inicial do que vamos querer desfrutar. À medida que vamos planeando, vamos também alterando algumas coisas por diversas razões: os horários do local, as temperaturas, o nosso orçamento ou os gostos de quem nos acompanha, entre outras. As alterações não ficam pelo planeamento. Enquanto nos encontramos em plena viagem, a realidade é outra forte razão da mudança de planos.
A escrita é exatamente a mesma coisa. Temos uma ideia que, nos primeiros momentos nos parece muito clara, mas à medida que vamos escrevendo, vão surgindo factores relevantes que nos alteram o percurso traçado de início. Por exemplo, uma característica da personagem que nos encaminha por um trilho não pensado no início ou um cenário que, afinal, não é o mais apropriado para aquele determinado momento. Enfim, raramente escrevemos a cem porcento o que havíamos imaginado.
PERCALÇOS
Por outro lado, um dos factores a ter em conta nas viagens, é que poderão não ser diretas. Para irmos para a Ásia temos de passar por Frankfurt ou Dubai, por exemplo. Essas cidades pouco interferem uma vez que nem tempo para sair do aeroporto dão. São supostas paragens breves para se chegar ao destino, mas pode acontecer prolongarem-se. Já me aconteceu permanecer 24h numa cidade de passagem, em vez da 1h30 planeada.
Na escrita, o mesmo acontece. Por vezes, contamos dar menos destaque a um ponto para avançar para o outro, mas à medida que vamos desbravando caminho, acontece demorar mais do que pensávamos. Não faz mal! Continuemos a escrever. Vai valer a pena.
CONCLUSÕES
As viagens também me ensinaram que viajar permite ter o espírito aberto para várias perspectivas da mesma paisagem. Nunca um local é visto sob o mesmo olhar para dois viajantes porque não somos todos iguais. Podemos sê-lo nos princípios que nos orientam, mas a nossa visão, as nossas emoções face ao mesmo evento serão sempre diferentes. Ninguém é igual a ninguém, como tal também não somos comparáveis. E é, precisamente, nesta diversidade que se encontra a riqueza de conhecer outras pessoas, ou melhor dizendo, outras visões do mesmo mundo.
De igual modo, um texto que escrevemos não é nem mais, nem menos interessante que outros. O nosso texto é a nossa visão sobre o que observamos, sentimos e comunicamos.
O QUE VIAJAR ME ENSINOU SOBRE ESCREVER?
Por muito planeada e controlada que a viagem possa estar, a meu ver, preciso de ter em mente que, na pura realidade, não controlo nada. Assim, a humildade e paciência permitem-me desenvolver a flexibilidade de aceitar alterações ao previsto. Esta flexibilidade é uma grande ajuda na vida e na escrita. Poupa-nos de gastos de energia desnecessários.
Viajar ensinou-me sobre escrever na medida em que me consente a descoberta de outras pessoas e, por consequência, a descoberta de mim.
Seja como for, é sempre bom ter um esboço, um objectivo a alcançar. É bom ter algo planeado, nem que sejam apenas os pontos principais porque o maior gozo da viagem, literal ou escrita, é conseguir deixarmo-nos ir à descoberta e ser surpreendidos.
Neste blogue, existe uma rubrica com o título VIAJAR na qual tenho partilhado curtos relatos de pequenas viagens pelas quais tenho o privilégio de embarcar. Quando não viajo fisicamente, recorro a livros de escritores de viagem. Ja partilhei aqui a minha leitura do autor português Gonçalo Cadilhe e, assim que terminar, conto-vos tudo sobre a minha viagem literária de estreia com a Rachel Ochoa.
E vocês, o que viajar vos ensinou sobre escrever?