PARA ONDE VÃO OS GUARDA-CHUVAS de Afonso Cruz é um livro cativante de tão emocionante!
O livro
A contracapa anuncia que o pano de fundo deste romance é um Oriente efabulado, baseado no que pensamos ter sido o seu passado e acreditamos ser o seu presente, com tudo o que esse Oriente tem de mágico, de diferente e de perverso. Conta a história de personagens tão distintas quanto os seus desejos e aspirações. Um magnífico romance que se desdobra numa sublime tapeçaria de vidas, tecida com os fios e as cores das coisas que encontramos, perdemos e esperamos encontrar.
A escrita de Afonso Cruz emprega palavras comuns para enunciar comoções minuciosas em metáforas tão delicadas quanto a nossa subsistência.
Ficam pretos, os dentes, como se anoitecessem e depois caíssem de maduros, como o dedo mindinho do meu primo. Com licença, que mundo é este em que tudo cai, em que os pentes ficam cheios da nossa morte, da nossa cabeleira? Para onde vai a nossa juventude, querida Bibi? Escorrega-nos pelas pernas abaixo, ficamos todos pendurados, os olhos descaídos, a alma descaída, o sexo adormece a apontar para o chão. Nada aponta para cima quando envelhecemos.
A velhice, o passado, o presente, a liberdade, a vida, a morte personificadas em gestos, sons e em silêncios que vociferam por uma explanação.
Não sentia nada na pele, dor nenhuma, ficou assim durante algumas horas, com o pé em cima do cigarro apagado, com o barulho da morte, que parecia um exaustor dentro da sua cabeça.
A minha opinião
O sol descia na vertical, caindo em cima das cabeças, queimava tudo àquela hora, furava os corpos e chegava às almas, aos intestinos, aos ossos.
E assim desceram em mim os curtos capítulos divididos em duas partes deste sublime romance, como um bálsamo que permeia as várias camadas protectoras da susceptibilidade que receia volver a ferir-se.
Os caminhos são mais longos – disse um dia a Elahi – para quem está sozinho.
A escrita de Afonso Cruz emprega palavras comuns para enunciar comoções minuciosas em metáforas tão delicadas quanto a nossa subsistência.
Ficam pretos, os dentes, como se anoitecessem e depois caíssem de maduros, como o dedo mindinho do meu primo. Com licença, que mundo é este em que tudo cai, em que os pentes ficam cheios da nossa morte, da nossa cabeleira? Para onde vai a nossa juventude, querida Bibi? Escorrega-nos pelas pernas abaixo, ficamos todos pendurados, os olhos descaídos, a alma descaída, o sexo adormece a apontar para o chão. Nada aponta para cima quando envelhecemos.
Este livro é uma companhia na partilha das dúvidas e na busca da resposta para o mistério tão significativo como o fado de cada um de nós e dos que nos são achegados. Este livro pode não ter uma resolução literal, mas a sua poesia escolta a procura.
Somos mais pesados quando fechamos os olhos. Iso acontece porque o nosso mundo interior é maior do que o exterior, pensava Fazal Elahi. A nossa dor não existe fora de nós , o mundo não suportaria esse peso, seria impossível, imagine-se a dor de todos os homens a existir no mundo exterior. Seria uma calamidade e não haveria gravidade capaz de fazer os planetas andar à volta da estrelas. Nós somos muito mais pesados do que o universo que nos rodeia. Temos a dor.
Com tanto sofrimento, com licença, deveríamos chorar estrelas, para mostrar como tudo o resto é pequenino comparado com tudo o que nos dói.
Quanto a mim, é assim que enfrento o complexo:
O céu visto aos bocadinhos, em fragmentos, é mais fácil de compreender.
PARA ONDE VÃO OS GUARDA-CHUVAS? Por continuarmos a procura-los e a esperar encontra-los, o sítio mais viável é em nós.
Enfim, poderia digitar todas as passagens que me encantaram, porém não substituiria o deleite que vão sentir ao ler este incrível livro.
Adorei, Ana.
Já me tinhas falado deste livro, mas agora que li o teu artigo, fiquei encantada.
Tens de o ler, Vera! Vais gostar muito!