Patrícia Fragoso – De cabeça na lua

Escrever - Palavra de Autora - Patrícia Fragoso

Com a cabeça na lua, mas de coração na Terra, a nossa convidada de hoje escreve sobre o Sol, o Gato Poeta de forma a contribuir com um pouco do seu brilho na vida dos habitantes do seu planeta. Das estrelas para o Escrever – Palavra de Autora, vamos conhecer a Patrícia Fragoso!

O que te deu vontade de escrever livros?

A escrita sempre esteve muito presente na minha vida, principalmente a poesia.

Como eu costumo dizer, a caneta e o papel rimam com superpoderes.

Tive professoras de português incríveis, que me incentivaram a escrever, a declamar e a paixão foi aumentando.

Mergulhei de cabeça nesta aventura de editar um livro.

Eu tinha umas quantas coisas escritas e guardadas, mas a ideia de publicar o meu primeiro livro surgiu associada ao facto de querer ajudar uma associação através de algo meu, fruto do meu trabalho. Senti o peso da responsabilidade, mas mesmo assim arrisquei e não me arrependo.

Então, criei o Sol, o meu lance neste mundo da escrita. Através dele surgiram outras oportunidades, conheci pessoas incríveis e toda a experiência em volta disto é deveras gratificante.

Onde encontras a inspiração? 

Antes de responder a esta pergunta, faz sentido referir que tenho um blog de seu nome A Ayla Conta, cuja etimologia de “Ayla” advém da luz da lua e como eu gosto de saber a origem de tudo e também ando por lá, acho que quando lá estou lhe dou um bocadinho de luz.

É através do blog que vou partilhando com as pessoas aquilo que sinto no momento e sobre vários assuntos. Este blog tem uma particularidade, escrevo e gravo em áudio aquilo que penso.

Decidi fazê-lo porque nem toda a gente, infelizmente, consegue ler por variadíssimas razões. Acho que aquilo que se escreve tem o direito e o dever de chegar a todo o lado, a todos, mesmo com outro tipo de capacidades. 

Este blog é a minha faceta mais adulta, espelhando maioritariamente sentimentos como o amor, a saudade, a liberdade…

A inspiração para o que lá escrevo nem sempre está presente, é uma realidade, parece que às vezes vai dar uma volta e se esquece das horas de chegar.

Ela tende a aparecer quando certas coisas acontecem na minha vida e, confesso, nunca tinha exposto que a maioria dos textos estão relacionados com histórias reais da minha pessoa. 

Tentei inicialmente separar a Ayla da Patrícia, mas com o tempo acho que fui alimentando a Ayla com tanto do que é meu que acabei por ter cada vez mais vontade de personificá-la de mim, embora ainda continue a sentir que posso escrever no blog o que quiser que ela vai ser, para quem lê, uma personagem. É uma sensação estranha, mas conforma-me.  

O que retrata o teu livro? 

Sol, o Gato Poeta é um livro infantil e o meu primeiro e único (até agora) e retrata a história de um gato especial, com um dom. O dom da poesia.

O Sol era um gato de rua, como tantos outros que infelizmente nela habitam. O Sol iluminava os dias cinzentos nos becos mais estreitos e obscuros da cidade de Lisboa. Por ser guloso demais, colocou a sua vida em risco, até que apareceu o sol da sua vida: a D. Maria, que o salvou com a ajuda de uma associação e o adotou. O Sol teima em dizer que foi ele que adotou a D. Maria! 

Ainda hoje vivem felizes, são a vida um do outro. O Sol não é um gato real, mas poderia ser.  

Desde que decidi trazer o Sol para a rua (desta vez no bom sentido, claro) tive uma vontade enorme que ele pudesse ajudar tantos outros animais que passam ou passaram pelo mesmo.

Conheci a Gatos do Jardim em São Pedro do Estoril, com seres humanos detentores de almas felinas maravilhosas, que asseguram que “a vida tem um valor, não um custo”. A Inês, a responsável, é uma D. Maria, mas de muitos gatos. 

Decidi apoiar a associação e fazer com que os direitos de autor conseguidos pelo Sol revertessem a favor da mesma, podendo salvar vidas. E se há aqui alguém que um dia pensou em não gostar de gatos, visitem a Gatos do Jardim. Sempre ouvi dizer que só não se gosta até se ter o primeiro e depois, vem o segundo, o terceiro… 

Sol, o Gato Poeta não é apenas um livro infantil, é uma lição para todos os seres humanos e traz consigo uma mensagem fortíssima de amor. 

Sol, o Gato Poeta está escrito em rima, pois estas colaboram com o aumento da aquisição da linguagem e com as habilidades da escrita, introduzem os mais novos no mundo da literatura e estimulam hábitos de leitura desde cedo, tal como o pensamento crítico e a sensibilidade. 

Este livro, apesar de se dirigir ao público mais jovem, chega em simultâneo aos pais e avós dos mesmos, com o sentido da aproximação, com o objetivo de explorar a mensagem que o Sol nos pretende transmitir. A ideia passou por criar um livro que abordasse uma temática sensível, com uma mensagem forte.

O Sol está à vossa espera!

 

Que eventos da tua vida te marcaram e, por consequência, se refletem no que escreves? 

Quem lida comigo diariamente sabe que eu tenho uma capa, uma espécie de colete à prova de bala, a minha defesa, e que pareço fria com algumas atitudes e reações, mas que por trás disso existe a “Patrícia coração de manteiga”, muito sentimentalista.

Um dos meus pontos fracos (mais sensíveis, vá) é a minha avó e um dos momentos que mais me marcou foi o aparecimento de Alzheimer. Ainda um bocadinho no âmbito da pergunta anterior, ela é uma das principais fontes de inspiração para o que relato no blog. 

Escrevo sobre ela e a sua demência no sentido de dar a conhecer o que isto realmente é, para todas as partes envolvidas, e que podemos torná-lo em algo menos pesaroso. A minha avó é e sempre foi um pilar na minha vida, quando eu estou mais em baixo é nela que penso e nas suas gargalhadas que ainda tem a felicidade de se lembrar de soltar. 

Um aparte: temos uma espécie de podcast chamado Conversas D’Avó Né onde a incentivo a conversar, mesmo que muitas das coisas não pareçam ter lógica num primeiro contacto, mas que depois percebemos que há muito mais para além da lógica como a paciência (que é inevitável não falar dela numa situação destas) e o amor. Podem ouvi-lo no blog e no meu canal do Youtube.

Depois também houve situações no campo amoroso que me marcaram e fazem com que escreva sobre isso, mas como se costuma dizer “são outros quinhentos” e se querem saber mais, vejam o que A Ayla Conta.

 

Hábitos de escrita: Onde escreves? Em que momento do dia? Quanto tempo dedicas à escrita?

O sítio… ahhhh, já vos estou a revelar tudo! 

Tão importante quanto o local, é de notar que eu preciso de estar sozinha para escrever, porque ao fim ao cabo não me sinto sozinha com a escrita. Talvez isto seja clichê para os escritores, mas é o que passa exatamente comigo.

Há um sítio que é especial, que me diz muito e é onde eu escrevo na maioria das vezes porque me sinto extremamente bem. É numa das casas de férias do meu falecido avô, no sótão que foi transformado em quarto.

Escrevo junto a uma janela pequena onde bate o sol durante o dia (nas raras vezes que escrevo durante o dia) e onde vejo as estrelas e a lua durante a noite. 

Tenho uma ligação com as estrelas e com este satélite natural da terra, daí também ter sido originário o nome do blog e do gato do meu livro. 

Sempre fui fã da noite. Quando frequentava a escola e estudava, também fazia os trabalhos neste período, talvez porque gosto da mística associada a ela e a dualidade que traz. 

Por norma, quando estou a trabalhar não consigo concentrar-me com música, mas na escrita é diferente. O meu estado de espírito tem outra aceitação e possuo uma banda sonora de eleição, onde ninguém canta mas o som da guitarra, do banjo, basicamente dos instrumentos de cordas, parece que me ditam as palavras que devo escrever. Gustavo Santaolalla é dos maiores culpados, no bom sentido, disto que refiro.

Há alturas em que me apetece escrever muito e outras em que estou mais desligada, mas isso é como em tudo na vida, por isso não consigo definir um tempo médio exato que dedico à escrita. 

 

Improvisas à medida que escreves ou conheces o fim antes de escrever? 

Por norma, sei sempre qual é o título que vou colocar em cada texto. Raras são as vezes em que os altero.

Como eu escrevo maioritariamente sobre coisas que acontecem comigo, já costumo saber o fim da história, mas já me aconteceu começar a escrever com uma ideia na cabeça, alterar a meio e o fim já em nada ter a ver com o que idealizei.

Tenho apontados vários títulos no bloco de notas, alguns porque acho giros e que até pode sair algo interessante dali e outros que me vão surgindo mediante certas situações que me acontecem e sei o que quero escrever sobre eles.

Não tenho muitas regras, nem caminhos definidos na minha escrita, é verdade, contudo acho que as pessoas conseguem identificar bem um texto meu.

 

Qual é o teu livro preferido? 

Há dois livros que me marcam desde nova até aos dias de hoje, pelo facto de nos mostrarem quais são os valores mais importantes que devemos ter na vida:

  •  O Principezinho, de Antoine de Saint-Exupéry
  • O Rapaz do Pijama às Riscas, de John Boyne. 

Ambos retratam a inocência do infantil e vão ser sempre histórias intemporais.

Daí eu também ter escrito o meu primeiro livro para crianças (aliado à missão de ajudar), mas aqui está o maior desafio, pois tem tanta ou mais dificuldade do que escrever para adultos.

A tarefa torna-se complicada quando o público que queremos atingir não tem filtros e a sinceridade está na sua essência e estes dois livros que mencionei estão no topo do que isso significa, para mim. 

 

E, por fim, uma breve mensagem de incentivo para quem gosta de escrever e pretende publicar. 

A mensagem é muito simples, porque se gostam de escrever, se querem publicar, não hesitem!

Não percam tempo, a realidade é que não existe a altura mais certa ou menos certa, porque se estamos à espera do momento X, ele pode nem chegar.

É preciso ter noção de que o caminho nem sempre é fácil, que pode até ser longo e será necessário batalhar, mas se tudo fosse simples, qual era a piada?

Escrever o livro acaba por ser a parte mais fácil, depois disso é necessário investir e quando falo em investimento é de tempo, principalmente.

Há quem prefira começar sozinho e há quem queira associar-se a alguma editora, como foi o meu caso, porque eu não tinha noção nenhuma de como é que isto funcionava e a editora ajudou-me no processo todo.

Seja qual for o caminho, tenha de começar por uma edição de autor ou não, vocês vão sentir que enriquecerão tanto e depois tenderá a tornar-se um vício, mas um vício bom.

Eu própria já estou a pensar no próximo! 

Muito obrigada, Patrícia!

Escrever - Palavra da Autora Patrícia Fragoso

 

Para acompanharmos o trabalho da autora Patrícia Fragoso e conhecer um pouco mais a Ayla:

Instagram: @aaylaconta

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Youtube: https://www.youtube.com/channel/UCbKPiQIHRCqutmfYDhitBbQ

Blogue: https://aaylaconta.blogs.sapo.pt 

 

O livro da autora Patrícia Fragoso

Sol, o Gato Poeta de Patrícia Fragoso

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