PES NA TERRA de Raquel Ochoa

PÉS NA TERRA de Raquel Ochoa

Viajar e escrever

Foi perante esta vista que vos escrevi sobre o livro PÉS NA TERRA da escritora de viagem Raquel Ochoa. Deambulei por esta leitura durante duas semanas ao mesmo ritmo que se vagueia por uma paisagem durante uma viagem, tranquilamente.

Um segundo é breve, dez segundos são imenso tempo. Tudo pode caber em dez segundos numa floresta. 

Imaginem num livro de 398 páginas que vos leva à África de Cabo Verde e do Senegal, com um pequeno bónus pela Gâmbia, à Ásia do Nepal, da Índia, do Sri Lanka, das Filipinas, do Japão e de Hong Kong e à Oceania da Nova Zelândia! 

A autora

Raquel Ochoa nasceu em Lisboa e licenciou-se em direito. Porém, o gosto pelas viagens a solo, nas quais se iniciou aos 20 anos pela Europa, ou acompanhada conduziram-na ao que ainda hoje faz com paixão: escreve sobre as viagens que faz e guia grupos em vários dos destinos a que volta frequentemente.

A primeira vez que ouvi falar desta autora, foi através de uma aluna minha australiana com ligações de coração a Portugal. Hoje, já vive cá. Comecei, então, a pesquisar um pouco sobre a Raquel. Descobri que quando não está a viajar, esta escritora está a falar sobre as suas viagens em workshops que organiza para nos orientar na escrita das nossas próprias viagens. Eu estive para fazer um, mas o COVID impediu-me. Estou a aguardar uma nova possibilidade. 

O ano passado viajei pelo Sri Lanka e escrevi todos os dias criando um diário de viagem, sem saber ao certo o que iria fazer com este material. Como a Raquel, prefiro viajar a escrever. Escrever é a pausa de tudo. É um longo beijo a nós mesmos. 

O livro 

O livro, sob a edição da Oficina do Livro, foi-me oferecido pelo meu marido que repete a oferta cada vez que vamos passear. 

  • Anda, ofereço-te um livro. Escolhes tu! 

É, mais ou menos, esta a deixa. E, neste instante, eu volto a ser criança e desloco-me aos saltos!

Assim que entrei na livraria, os meus olhos pousaram neste livro cuja foto da capa me remeteu para o Sri Lanka (não sei se é!) e a viagem de comboio que nunca esquecerei, pelo insólito da desorganização e pela beleza das paisagens que atravessamos. Quando pego no livro e o começo a explorar, percebo que há uma parte sobre o Sri Lanka em que a primeira frase diz o seguinte:

Nunca esquecerei a primeira vez que aterrei no Sri Lanka. 

Bastou-me esta frase, sem mencionar o gosto subentendido pelas viagens, para decidir a minha escolha porque eu própria não esquecerei a primeira vez que aterrei no Sri Lanka. No meu caso, foi uma espécie de conforto embora estivesse, pela primeira vez, num continente nunca antes pisado por mim.

 

Porque o escolhi?

Ainda que os motivos possam ser diferentes, havia pelo menos um país da lista que ambas conhecíamos. O ponto de vista da Raquel em relação ao Sri Lanka seria a minha referência quando lesse os relatos de viagem de todos os outros destinos, que ainda desconheço. Se a minha ideia era saciar a saudade de viajar, não consegui. Pelo contrário, esta leitura adicionou destinos à minha lista e inflamou a minha vontade, já grande, de viajar. Todavia, os meus medos permanecem. 

E medo de viajar é coisa que não se usa.

Diz a destemida Raquel. Em alguns dos relatos temi e pensei que se lá estivesse, voltava para trás.

O maior dos meus receios são, exatamente, as diferenças culturais, aspecto abordado neste livro, entre outros, como informações geográficas e históricas. Fui várias vezes ao mapa e às barras cronológicas mentais. É muito possível eu não ter fixado tudo ( nem pouco mais ou menos), mas foi, sem dúvida, muito apropriado enquanto visitava os locais descritos e vou, com certeza, voltar a ler se os visitar realmente. Apropriadas também se revelaram as 32 páginas recheadas de fotos. 

A minha opinião 

Viver a escrever é uma tragédia e uma comédia. (…) É viver de cabeça no ar , olhos abertos e pés na terra.

É desta forma que a autora introduz “Avisos à navegação” e anuncia a honestidade com que vai partilhar as suas aventuras e tudo começa, exatamente, na primeira viagem que decide fazer a solo. 

A transparência no relato das emoções torna este livro uma confissão gigante em sinceridade, qualidade que se afunda de dia para dia no mar de aparências, no qual o mundo parece gostar de mergulhar cada vez mais. 

Este é um livro que convida a viagens físicas, a viagens ao mundo dos outros, viagens ao nosso mundo e, sobretudo, uma viagem à realidade. Escusado será dizer, mas digo-o na mesma, que recomendo muito esta leitura. 

Gosto de viajar, também, porque muda a percepção de tudo, deslocando-nos do absoluto para o relativo, do nosso umbigo para o umbigo do mundo. 

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