Começou a escrever pela necessidade de exteriorizar emoções e depressa encarou a escrita como terapia. Até que decidiu que não queria mais parar. A Sandra May conta-nos tudo aqui!
O que te deu vontade de escrever livros?
Desde os meus 12 anos que mantenho diários pessoais e a minha paixão pela escrita nunca foi intencional para publicar mas sim, usar como registo de memórias e terapia.
Em 2018 as coisas mudaram um pouco. Estava a passar por um período um pouco difícil no meu percurso, era militar e senti uma maior necessidade de escrever ao longo do dia, em vez de escrever ao final do dia (como era habitual) para conseguir gerir as minhas emoções e para tentar organizar os meus pensamentos.
Até que certo dia, decidi fazer um livro que servia de guia para o desenvolvimento pessoal, mas o livro era bastante íntimo e durante o processo de escrita e investigação, comecei a sentir-me mais pesada do que leve, mais ansiosa e não consegui gerir toda a informação que estava a receber. Ainda pedi opinião à minha melhor amiga para ler o que já tinha e ela gostou bastante e lançou-me o desafio de escrever um romance (que num futuro breve vai ser publicado, vamos todos fazer figas para isso acontecer).
Escrevi, revi umas cinquenta mil vezes, ainda estou acabar de o rever! Está praticamente pronto!
Enquanto isso acontecia, criei o meu blog, o instagram, participei em algumas coletâneas da editora Chiado, participei no concurso literário de um conto infantil da Cordel d’Prata, não ganhei mas ofereceram-me a oportunidade de o publicar à mesma.
Foi em 2020, no ano louco, que decidi que queria escrever e lutar por uma carreira de escritora. A vontade não veio de um sonho antigo. A vontade de escrever foi crescendo com o tempo.
Onde encontras a inspiração?
Encontro a inspiração na minha experiência pessoal e nas pessoas mais próximas. Eu costumo dizer que já fiz um pouco de tudo e em tudo o que fiz até hoje foi com sucesso e atingi uma realização pessoal muito grande.
A minha inspiração passa muito pelas minhas conquistas, perdas mas principalmente, pelas inúmeras voltas que já dei à minha vida.
Já construí e desconstruí muitos caminhos e é nesse processo (de muita incerteza, também) que acabo por encontrar a inspiração sem muita dificuldade.
O que retrata(m) o(s) teu(s) livro(s)?
Eu não sou uma escritora com um género literário específico.
Por isso, todos eles acabam por retratar coisas muito diferentes mas há sempre dois pontos em comum em todos eles: a (minha) verdade e o “outro lado”. E quando uso a palavra verdade, não é a verdade do que sou ou do que passei, mas a verdade quanto ao envolvimento da história e a forma como todas as personagens são completamente transparentes.
Gosto de uma personagem misteriosa, mas até ao final do livro, eu tenho de saber toda a verdade e o que a levou a manifestar um comportamento misterioso. O “outro lado”, significa aquela velha frase “todas as histórias tem dois lados (ou duas verdades)” e eu gosto de abordar o lado que quase ninguém fala.
Geralmente, nos romances e dramas sentimos grande empatia pela personagem que sofre, que é a dita “vítima” e eu gosto de abordar a versão e a personagem que magoa, que falha, que erra. E retratar o outro lado é, talvez, na minha humilde opinião, retratar a verdade mais crua do ser humano.
Que eventos da tua vida te marcaram e, por consequência, se refletem no que escreves?
A minha infância e a minha adolescência. Por razões completamente diferentes.
Na infância desejava muito fazer parte de um grupo, ser fiel e leal ao grupo. Adorava brincar com os meus amigos. Sempre fui muito social e extrovertida. Para mim era muito importante fazer parte do sistema, fazer parte de algo maior do que eu e naquele tempo eram as amizades, as relações que se construíam, o respeitar as normas e ter uma boa reputação.
Na adolescência, a história foi completamente o oposto. Eu só queria sair dos padrões da sociedade e do sistema. Chegou a um ponto em que eu senti que não havia lugar para mim no mundo. Tinha o meu grupo de amigos, éramos todos bastante rebeldes e foi na adolescência que tive a sensação de estar a viver a minha vida mas no pensamento era um lobo solitário. Espiritualmente e intelectualmente, essa quebra, essa solidão, essa ausência de compreensão, marcou-me bastante. Daí a minha escrita ter o cuidado de retratar o lado que ninguém está disposto a ouvir.
Hábitos de escrita: Onde escreves? Em que momento do dia? Quanto tempo dedicas à escrita?
Eu escrevo todos os dias.
Tenho um escritório em casa e escrever é o meu trabalho a tempo inteiro, por isso escrevo umas quatro a cinco horas por dia à tarde mas se estiver muito inspirada, posso arrastar até à noite. Nos dias em que não consigo escrever por falta de harmonia comigo mesma (acontece, é perfeitamente normal), revejo o trabalho já feito.
Improvisas à medida que escreves ou conheces o fim antes de escrever?
O primeiro romance (já referido anteriormente), fui escrevendo sem conhecer ou pensar muito na história em si.
Improvisei bastante.
Agora, neste thriller psicológico que estou neste momento a escrever, é algo bem metódico.
E prefiro de longe: a organização, a ordem, a técnica do que o improviso.
Ter a história já toda organizada, cada capítulo com o assunto definido, facilita imenso o meu trabalho.
Qual é o teu livro preferido?
Romance em Amesterdão de Tiago Rebelo (autor português). E tenho de confessar que o ano passado li O Jardim das Borboletas de Dot Hutchison e fiquei rendida! Apaixonada mesmo! Por isso, estes dois são os meus livros favoritos.
E, por fim, uma breve mensagem de incentivo para quem gosta de escrever e pretende publicar.
A todos aqueles que tenham a vontade de escrever e publicar as suas histórias, PREPAREM-SE!
Dói muito!
É muito difícil! É um trabalho muito nosso, um pouco solitário mas quando temos o nosso manuscrito completo, é como se tivéssemos o nosso mundo nas mãos.
Muito obrigada, Sandra!
Podemos continuar a seguir o trabalho da Sandra aqui:
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Os livros da Sandra May