Sandra Ramos
O que fazias?
Tinha uma empresa que se dedicava à contabilidade, auditoria e economia.
O que fazes agora?
Abri um Estúdio de Yoga. Concilio esta atividade com a função de Diretora de um Centro Comunitário, uma Ipss que se dedica a ajudar o próximo.
Qual foi o primeiro sintoma da vontade de mudança?
A sensação de esgotamento físico e mental. Senti fisicamente as causas da ansiedade que o meu trabalho me provocava. Senti-me a sufocar. Senti que me estava a perder e decidi reencontrar-me. Percebi que tinha de repensar a minha vida. A vida de stresse e a validação do meu profissionalismo já não faziam parte de mim. A falta de tempo e de energia, assim como as horas de trabalho pela noite dentro, mostraram-me que o caminho a seguir já não era por ali. Tornou-se muito mais importante dedicar tempo de qualidade aos meus filhos, família e amigos.
O que te impulsionou a passares à ação?
Primeiro abrandei, depois parei e pensei. Voltei a pensar muito, sobretudo em alternativas ao sufoco que sentia quando chegava ao escritório. Comecei então por mudar a minha atitude perante a vida, através de um processo de autoconhecimento. Aceitei quem eu era. Acredito que nós já somos quem procuramos. Apesar de não controlar o que se passava no exterior podia controlar a minha reação interna. Tratei de prestar atenção aos detalhes no meu trabalho, enfrentando o desafio de gerir pessoas, clientes e tempo. Controlei as minhas expetativas tolerando a diferença dos outros, com peito aberto e de modo positivo, aceitando que somos todos seres humanos, que é normal falhar, que podemos sempre voltar atrás e tentar de novo. Depois, iniciei uma nova fase dedicada à meditação, à espiritualidade, acreditando que existe uma força mais forte que nós, que nos une e que nos dá força para acreditarmos na mudança. Tudo parte de nós, nós podemos decidir a todo o momento. Comecei a procurar dentro de mim o que me fazia feliz, prestando atenção à minha volta; investi em formação na área que me interessava e preparei-me para mudar. No meu caso, trabalhar com crianças era o que me fazia feliz. Aos poucos comecei a delinear uma estratégia para ir alterando de vida sem prejudicar as pessoas que dependiam diretamente do meu trabalho. Inscrevi-me como voluntária num Centro Comunitário, trabalho esse que me trouxe bastante realização pessoal.
Tem sido fácil? Quais têm sido os maiores desafios?
O maior desafio foi assumir o medo e reunir a coragem necessária para iniciar um novo projeto de vida. Foi um ano cheio de desafios. Tive que explicar aos funcionários, clientes e parceiros de negócios que já não queria estar neste mundo empresarial. Tive que enfrentar a minha família e os amigos e explicar o porquê de tal decisão. Se para uns é inspirador, para outros é motivo de preocupação e estranheza. Algumas pessoas não percebem a necessidade de mudança, cada um segue a sua vida a quem está ao lado passa despercebido; acontece com todos, vivendo nós num mundo cada vez mais individual. Outro grande desafio foi o facto de tentar sobreviver com menos dinheiro, mudar os meus filhos de escola sentindo culpa por alterar a vida deles em prol da minha nova realidade financeira. A nível pessoal, foi desafiador abrir os olhos e ver-me com uma profissão totalmente diferente. Ver-me e não me rever numa nova função. Foi um choque a adaptação a uma nova realidade, alcançada, mas não interiorizada. Também pesou o facto de não conseguir controlar tudo, tal como fazia com a minha anterior profissão, que exercia há quase 20 anos. Tive receio de não conseguir desempenhar bem esta nova função. Aprendi a olhar para mim aceitando que tinha um novo papel que foi escolhido por mim e aproveitando a segunda oportunidade que a vida me havia dado: um presente há muito ambicionado e a alegria de poder trabalhar com crianças, tanto no estúdio através do papel de professora de yoga para crianças tal como no Centro no papel de gestão geral da Instituição ajudando os outros a alcançarem uma vida melhor.
O que procuras?
Procuro ser honesta comigo e com quem me rodeia, seja em pensamentos, atos ou ações. Procuro ser feliz e agradecida todos os dias porque é maravilhoso trabalhar no que gostamos.
Já encontraste?
Sim, estou a adorar minha nova vida profissional que influenciou positivamente a minha vida pessoal. Tive muita sorte com a vida que me calhou, sou muito feliz. Mesmo que, por vezes, seja difícil dar o primeiro passo, olhamos para trás e vemos que valeu a pena! Todas as dúvidas, incertezas e dificuldades fizeram parte do processo.
Já te arrependeste?
Não! Mudei na altura certa. Não poderia ter sido mais cedo nem mais tarde. Foi como se me estivesse a preparar para este momento. Posso ter menos dinheiro, viajar menos, comprar menos coisas, mas tenho a riqueza de acordar todos os dias feliz e, por consequência, contribuir para fazer os outros felizes.
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