Segundas-feiras

Lembro-me de uma altura da minha vida em que não gostava dos fins de semana, principalmente dos domingos. Eram dias de uma pasmaceira autêntica. As lojas fechavam. O parque estava vazio. Se precisássemos de alguma coisa não podíamos comprar, não só por não termos dinheiro, mas isso eu ainda não sabia.

Quanto às pessoas, essas desapareciam sabia lá eu para onde! Se precisássemos de alguém, também não podíamos contar com as pessoas e isto eu também ainda não sabia! As pessoas de fora estavam nas suas casas, as de dentro escolhiam o domingo para descansar. Éramos quatro e metade resolvia dormir a sesta. Ainda que perguntasse a uma amiga se queria brincar comigo a resposta era frequentemente “sábado era melhor porque domingo já tenho coisas.”

A tranquilidade aparente do dormitório onde vivia, inquietava-me ao ponto de primeiro me irritar e depois entristecer-me. Eu não tinha idade para necessitar de nada dessas lojas, fossem elas de utilidades ou futilidades; nem das amigas com quem passava a semana na escola. Porém, era assim, aborrecida, que me encontrava ao domingo. Aos fins de semana e feriados sentia sempre saudades da falsa disponibilidade dos dias de semana e ansiava o recomeço do frenesim. Quando o verão chegava, os domingos eram, por vezes, nunca percebi a cadência talvez porque não existia, atípicos. O dia mais parado da semana era aproveitado na praia e na mata, o que me preenchia de grande entusiasmo.

Hoje estou diferente! Hoje, já não estou assim tão jovem. Hoje reconheço que não preciso das lojas todos os dias. Hoje, sou capaz de distinguir uma disponibilidade somente verbalizada e outra genuinamente sentida. Hoje, procuro toda a semana pela calmaria dos fins de semana e feriados do meu antigamente. É por isso que quando o domingo é de frenesim, a segunda é abraçada saudosamente. Aconchego-me a ela e finjo que é hora de sesta!

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