A loja dos chineses

Se cada objeto conta uma história, qual o melhor local para abastecer ideias? Numa loja de chineses! Pode não ser o melhor, mas é um local de um incomensurável número de artigos úteis. Ou a fingir que são…
Pois por falar em fingir, pensando bem, todo o ato de ir a uma loja de chineses é fingimento! Somos enganados desde o momento em que se entra até o momento em que se sai. Enganados por nós próprios e pelos seus lojistas.
Primeiro, os proprietários desses negócios são orientais a fingirem-se ocidentalizados por colocarem em venda artigos que, segundo eles, vamos precisar, mas o único intuito que têm é o de chegar ao nosso dinheiro; fingem que o barato é bom, quando todos sabemos que o barato sai caro; fingem ser amigáveis e gostar de nós quando não nos deixam nem dez segundos a sós por desconfiarem que possamos levar sem pagar algum precioso objeto!
Por sua vez, nós fingimos poder de compra, quando só de pensar comprarmos chinês já é um sinal de pouco dinheiro.
E, no que me diz respeito, as idas ao chinês são tão velozes que parecem mentira! Aceito-me como uma verdadeira fingidora nesse campo, pois entro numa loja fingindo a convicção de que o que procuro vou certamente ali encontrar. Vagueio o tempo que me apetece gastar no fingimento de procurar o que não preciso nem quero; demoro-me pelos corredores embora a olhar diagonalmente as centenas de objetos frágeis e inúteis; e, quando finalmente saciada a guarnição da minha bolsa de imaginação, finjo aborrecimento por não encontrar o que procuro e dou por terminada a visita à loja.
É neste fingir de querer comprar que assalto as lojas sob os olhos em bico dos seus proprietários. E, na verdade, tanto assalto lojas de chineses como de qualquer outra nacionalidade! Porque, na realidade, o que procuro são ideias e estas não se vendem, tão pouco se dão… As ideias trocam-se, partilham-se, copiam-se!

Photo by Denisse Leon on Unplash.