Às vezes, o que nos impede de sentir verdadeiramente uma história é a nossa própria impaciência.
Hoje falei com uma das minhas alunas sobre algo que observo com frequência: a falta de paciência no início de uma aprendizagem.
Neste caso, falávamos de aprender uma língua. Ensinar português a estrangeiros e francês a portugueses mostra-me isso todos os dias — há quem desista logo no início. E eu compreendo.
No início de qualquer jornada, não se vê nada. Não se percebe o que aí vem. Estamos ansiosos por viver tudo o que imaginamos, tudo o que nos disseram que se vive. Projetamo-nos no fim, mas ali, no princípio, há só um vazio, uma névoa.
Como professora, sinto-me do outro lado dessa ponte. Já percorri o caminho. E mesmo assim, muitas vezes esqueço-me de como ele é duro no início. E esqueço-me, sobretudo, que também eu posso cair na mesma armadilha — noutras áreas da vida.
De Amanhã em Amanhã, de Gabrielle Zevin: uma leitura espelho
Sem dar por isso, fiz exatamente o que criticava — ou melhor, o que observava — ao ler De Amanhã em Amanhã, de Gabrielle Zevin.
A minha expectativa era alta. Disseram-me que me ia marcar, que me ia emocionar, que ia pensar neste livro durante dias. E, com isso, em vez de me deixar envolver pelas personagens, pela escrita, pelo tempo do livro, comecei a correr. A cada virar de página, queria o impacto. Queria o “uau”. Queria o fim.
Mas o livro não me devia isso. E a verdade é que, ao tentar antecipar o que ele me iria dar, perdi muito do que ele estava a oferecer. As conclusões chegaram, sim. E foram fortes. Mas senti-as com menos intensidade. A impaciência toldou-me a experiência.
O valor do caminho
Este livro fez-me ver que, quando tentamos galgar etapas — na leitura, na aprendizagem, na vida — perdemos muito mais do que ganhamos. Perdemos o durante. E, com isso, inevitavelmente, perdemos também o depois.
Talvez seja essa a maior lição: não é o impacto final que transforma. É a travessia. É o espaço entre o primeiro passo e o último virar de página. É ali que a história nos encontra.
Já leste De Amanhã em Amanhã? Tiveste uma experiência semelhante ou completamente diferente da minha?
Partilha nos comentários — gosto sempre de saber como os livros tocam (ou não) cada um de nós.