FELICIDADE de João Tordo, no título e na capa, sugeria-me uma história de amor, sim, mas não no limbo!
A contracapa
Lisboa, 1973
Nas vésperas da revolução, um rapaz de dezassete anos, filho de um pai conservador e de uma mãe liberal, cai de amores por Felicidade, colega de escola e uma de três gémeas idênticas.
As irmãs Kopejka são a grande atracção do liceu: bonitas, seguras, determinadas, são fonte de desejos e fantasias inalcançáveis.
Respira-se mudança – a Europa a libertar-se das suas ditaduras e Portugal a despedir-se da velha ordem – e vive-se a promessa da liberdade, com todos os seus riscos e encantos. É neste tempo e neste mundo, indeciso entre tradição e modernidade, que o nosso narrador cai num abismo pessoal.
A primeira noite de amor com Felicidade acaba de forma trágica, e o jovem vê-se enredado na malha inescapável das trigémeas Kopejka, três Fúrias que não tem poderes para controlar. À semelhança de uma tragédia grega, o herói encontra-se subjugado por forças indomáveis, preso entre dois mundos.
Felicidade é uma história de amor e assombração nas décadas que transformaram Portugal. Um romance enfeitiçante, repleto de ironia e humor, de remorso e melancolia, em que João Tordo aborda os temas do amor e da morte, e das pulsões humanas que os unem.
A minha opinião
O talento do escritor João Tordo é inquestionável e, por isso, não há qualquer dúvida quanto ao livro Felicidade ser uma obra muito bem escrita e de um domínio técnico notório.
No entanto, pessoalmente, não consegui conectar-me com a história.
1. Não sou uma grande apreciadora de cultura clássica, embora reconheça o impacto profundo nas artes e no pensamento do mundo ocidental.
2. Também não aprecio personagens que se destroem a si próprios em vez de evoluírem.
Veja-se, por exemplo, Periandro, o segundo tirano dos Coríntios, que assassinou a mulher num acesso de raiva (…).
Estes dois pontos influenciaram bastante a minha experiência com o livro.
Também é verdade que nem tudo foi trágico! Iniciei a minha leitura com muito entusiasmo é assim me mantive por algum tempo.
Salvo algum linguajar e descrições menos apropriadas que atribui às idades dos personagens, o narrador conseguiu agarrar-me desde as primeiras páginas.
As antecipações constantes aguçaram a minha curiosidade e fizeram da leitura das primeiras 300 páginas um piscar de olhos.
No princípio do Verão desse ano, as coisas complicaram-se ainda mais e teve início o processo que levaria a mais um dos horrores de que terei de vos falar adiante.
Também me deliciei com o pano de fundo: Portugal na década de 70. Nasci um pouco mais tarde, mas recordei algumas menções da década de 80.
Porém, nas últimas 100 páginas, senti-me uma Penélope presa numa espécie de limbo literário: quanto mais páginas lia, mais longe parecia estar o fim da história ou a resolução da mesma aos meus olhos. Quanto mais avançava para o fim do livro, menos ligada, mais impaciente e incomodada com o protagonista me sentia. O que não é negativo de todo, pelo contrário, revela a indubitável habilidade de João Tordo em tecer as suas personagens.
E, por fim, o desfecho. Entendi-o, mas não me agradou.
Apesar deste livro não me ter cativado, consigo perceber por que Felicidade conquistou prémios e é elogiado.
Já leste este livro?