Testemunho 8 AnaGui

AnaGui

 

Num tom subtil de nota final de jornada resolvi, eu também, partilhar a minha mudança.

O que fazias?
Era produtora técnica essencialmente em programas televisivos de entretenimento. 
Ao contrário de muitas pessoas, trabalhar em televisão não era um sonho de criança. Não sonhei esse mundo, nem desejei esse trabalho. Por força das circunstâncias acabei por aceitar uma oportunidade que surgiu. Na altura, na minha cabeça, seria temporário. Ainda estava a estudar, Letras e Literaturas Modernas, e tinha objectivos bem definidos. Mas acabei por gostar muito do que fazia e aí sim, escolhi e decidi ficar. E passaram-se 17 anos!

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O que fazes agora?

Dou aulas de português para estrangeiros e de francês.

Qual foi o primeiro sintoma da vontade de mudança?

O primeiro sintoma de mudança veio com o repetido sufoco de não poder estar presente em ocasiões familiares em que a minha ausência não me fazia qualquer sentido : em caso de doenças ou até de datas alegres. Eu queria lá estar e não podia. Isso foi-me matando.

O que te impulsionou a passares à ação?

A maturidade que a idade nos vai trazendo, se permitirmos, leva-nos a um maior discernimento quanto ao que queremos e, sobretudo, ao que não queremos. Aliada à maturidade, cresceu uma grande insatisfação. Meses e anos a acelerar pelo tempo fora para alcançar quase nada. O esforço era enorme e o retorno não compensava. E quando olhava à minha volta percebia que muito pouco iria mudar para melhor. Então, cheguei à conclusão que quem tinha de mudar era eu. Iniciei assim um brainstorming diário na busca de alternativas profissionais.

Tem sido fácil? Quais têm sido os maiores desafios?

Fácil não é, mas difícil não é impossível. E aprendi desde sempre que não se tem nada sem nada, portanto só me resta continuar a esforçar-me, com o excelente sabor de que estou com rumo. O maior desafio tem sido voltar a estudar assiduamente ( quando se ensina nunca se deixa de estudar) e elaborar aulas que sejam atractivas. Mas escudei-me com  um curso que serviu de refresh. Embora o ensino estivesse sempre presente ao longo destes anos através de explicações e até aulas on line, agora já não é um hobby. E digamos que começar de novo aos 41 requer uma energia extra.
Outros dos desafios, é a adaptação ao ritmo saudável que encontrei. A velocidade do trabalho em televisão é maioritariamente alucinante. De repente, perceber que, por exemplo, física, mental e financeiramente cinco horas por dia cinco dias por semana são a tua equação, também requer disciplina porque é fácil caíres no erro de mais e mais.

O que procuras?

Procuro qualidade de vida que passa pelo equilíbrio entre os nossos deveres e os nossos lazeres. Continuo a trabalhar, mas desta feita com tempo para mim e para quem gosto, família e amigos.

Já encontraste?

Encontrei sim. Mudar de vida profissional permitiu que tivesse mais tempo, ou melhor dizendo, permitiu que eu gerisse verdadeiramente o meu tempo. Afrouxei o ritmo e comecei a viver dando importância ao que me faz sentido. Considero sinceramente que comecei mesmo a viver. Por outro lado, o contato com diferentes pessoas de múltiplas nacionalidades, tanto no ensino como no trabalho voluntário que faço, traz-me de volta a humanização há muito ausente e esta tem sido uma parte fascinante desta nova jornada.

Já te arrependeste em algum momento?

Não. Não me arrependi nem um segundo! E, francamente, tenho sérias dúvidas que isso algum dia aconteça.

5 Comments

    1. Que testemunho inspirador! Tantas dificuldades, tantas horas trabalhadas, tanto esforço que te desgastava física e emocionalmente… conseguiste sair deste ciclo e encontrar algo fundamental: o tempo para ti e para quem mais gostas! Ler este post foi uma lufada de ar fresco. Desejo-te tudo de bom! 😊

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